sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Quarenta e oito dias

Sim, desde que eu te vi, eu te quis
Eu quis te raptar
Eu fiz um altar pra te receber
Como um anjo que caiu lá do céu
Não estava voando
Andando, distraiu-se

A euforia me fez calcular e recalcular os dias que faltam. Peguei os óculos, peguei o calendário, sentei numa cadeira e fui ao encontro do mês que nos espera. Contei. Recontei. Abaixei a cabeça num lamento profundo e pensei comigo: "Caralho! Falta muito ainda!"

Voltei para o que eu estava fazendo. Mas não consegui me concentrar. Vi meu rosto no reflexo do vitrô da cozinha. Já era tarde, muito tarde. Porém, na minha imaginação, já eram nove horas da noite e você à espera de quem não via há tempos naquele aeroporto.

Minha ansiedade permitia que a minha imaginação fosse longe. Distante. Para outro lugar. Para outro Estado. Era você ali me esperando, me querendo, fazendo um altar para me receber.

Além da saudade, é amor também o que sentimos. A gente sempre sente o que vem da alma.

Graças a imaginação, minha cabeça não parou um minuto quando vi a agenda do celular apontando a data que nos espera. Falta muito? Não, não responda. Fazemos de conta que não falta tanto tempo assim. Fazemos de conta que sabemos disfarçar muito bem essa saudade interminável que temos um pelo outro.

Eu aqui. Você aí. E a nossa imaginação interligando uma vontade que só a gente sabe sentir: estar junto um do outro, um para o outro, um com o outro.

Verás de perto o quão oscilo de humor. Verás as minhas manias, o meu riso solto ou o meu jeito de ficar sem graça quando você me elogia.

Falta pouco! Não falta?

Sim, faz falta. Você me faz falta.

Mas só faltam 48 dias.

Só 48 dias.

E contando.